A MALDIÇÃO CHAMADA CÂNCER…
CARLOS AUGUSTO PRATES DE MENEZES
História biográfica.
Direitos Reservados (reprodução proibida)
A sombra da morte.
Meu trama começou em 1979, quando minha mãe adoeceu, e o
diagnóstico era assustador Câncer de Colo do útero.
Nessa época eu tinha apenas 13 anos de idade, a notícia era
sombria, assustadora pois se sabia que o portador de tal doença inevitavelmente
iria morrer.
Minha mãe tinha 50
anos uma senhora ,forte ,alegre, trabalhadeira, extremosa ,presente.
Era funcionária do frigorífico Swyft Armour na cidade de
Rosário do sul.
Nossa casa era um casebre misto de madeira e paredes de
tijolos sentados a barro.
Três quartos, sala e cozinha, a cozinha grande medindo, cinco
metros de cumprimento por três de largura, sem forro e de chão batido, pátio
grande com árvores frutíferas, muita sombra, porém sem energia elétrica ou água
encanada.
A luz era de lampião a querosene ou velas, a água tinha de se
buscar no poço, que ficava a um km.
Lembro – me do dia em que soube da confirmação da doença de
mamãe, foi numa tarde, escondi – me embaixo da mesa da cozinha, mesa rústica
feita de madeira, que media 2,20 de largura por 3,30 de cumprimento era maio
1979, o inverno estava chegando e já fazia muito frio, e esse dia chovia muito,
e ali embaixo da mesa eu chorei muito pensando em como seria a vida sem minha
mãe.
Embaixo da mesa da cozinha era meu esconderijo secreto, ali
eu passava horas quando estava triste e chateado com alguma coisa, ali era meu
mundinho particular onde ninguém , me perturbava e as vezes tinha por companhia
os gatos de minha irmã Célia, que vinham
pedir carinho.
Aquela tarde chorei até a noite chegar, eu não tinha com quem
dividir minha angústia, já sabia o que era a morte, já tinha ido a alguns
velórios e sepultamentos, e agora essa bandida e nefanda chamada morte rondava
minha casa.
Os dias que se passaram foram de grande expectativa e medo do
iria acontecer ,como cristão eu orava e acreditava ,mas o céu parecia de
bronze, mas Eu sempre soube que Deus cura e podia curar toda e qualquer
enfermidade, mas tinha de esperar ,porque não se pode ir contra a vontade de
Deus e se ele terminou que Eu tinha que passar por esse vale, Eu passaria
louvando – o.
Seguiram –se dias de tratamento e enfim foi encaminhada a
Porto Alegre, para fazer a remoção do útero, mas chegando lá constataram os
médicos que a doença ,um Carcinoma com
metástases disseminadas ,estava em estágio avançado e não podia se fazer nada,
a não ser a quimioterapia.
De volta a nossa casa, a rotina era internar e desinternar no
hospital Nossa Senhora Auxiliadora, pois devidos as fortes dores e sangramento,
mamãe não podia ficar em casa, seus gritos de dor as vezes eram tão terríveis
,que até hoje parece que ouço, ao lembrar daqueles dias de sofrimento.
Minha mãe tinha um e setenta de altura, pesava seus 76 quilos
,que foram sumindo pouco a pouco, cada dia Eu
via ela morrer aos poucos.
Muitas vezes ouvi em meio seus delírios de dor ,clamar para
que a morte a recolhesse logo, para que terminasse o sofrimento.
1980 foi um ano rotina de ir e vir ao médico e ao hospital ,mês de maio ele internou ficou dez
dias, e deu alta, como o INSS, só garantia internação de 10 a 15 dias , ela
internava ficava aquele período e dava alta e passava um dia em casa e depois
tornava a internar.
Pagar tratamento particular não tínhamos dinheiro pra isso, a
família apesar de grande todos muito pobres, sobreviviam na garra ,na raça.
Tornei me acompanhante permanente de mamãe com permissão da
freiras carmelitas que administravam o hospital, e irmã Lúcia que se compadecia
de nosso sofrimento , me permitia ficar cuidando de mamãe ,mesmo que isso não
era comum, criança ser acompanhante.
Eu ajudava no podia limpava o quarto banheiro as vezes
corredor numa forma de agradecer, o corpo de enfermagem começou me treinar de
foram que aos 14 anos eu me tornei auxiliar de enfermagem, as medicações de
mamãe em casa eram administradas por mim, via oral, endovenosa e intramuscular.
No hospital eu ajudava muitos outros pacientes em situação
semelhante de minha mãe que estavam sem acompanhante.
Mamãe há muito só fazia as necessidades fisiológicas na cama,
numa comadre, banho na cama e por muitas vezes Eu tinha de ajudar ela sozinho,
curativos diários eram feitos nas escarras de leito, e feridas nos pulsos e
tornozelos que se originaram pelo rompimento de vasos sanguíneos ,ao não
suportarem mais as punções endovenosas.
Quando ela passava um ou dois dias em casa eu dormia num
quartinho de frente ao dela e com uma lanterna debaixo do travesseiro, ela
gemia e eu pulava da cama, eram dias de muita dor, mas Eu desejava um dia
acordar e ver minha mãe andando e comendo, vivendo de forma normal.
Mas quando acordava do pouco que conseguia dormir, ela estava
gemendo e chorando sob a cama, com a graça de Deus consegui ter forças de enfrentar e ir levando minha cruz.
Passei muita fome como acompanhante de mamãe, o pouco que
vinha para ela como paciente, e sobrava eu comia, não tinha dinheiro para ir na
cantina comprar uma bolacha.
O hospital para mim se tornou um presidio, Era doloroso ver minha mãe sofrer de dia e de noite.
Nos horários de visita eu me afastava um pouco e as vezes um
ou outro conseguia ficar mais um pouco com ela então Eu ia em casa dormir um
pouco.
Meu pai com 61 anos, aposentado por problema cardio chamado
coração grande cuidava do casebre , e do meu outro irmão menor (9anos) ,que na
verdade era meu primo adotado por mamãe.
Quando Eu vinha em casa, meu pai fazia um gostoso carijó , feijão e arroz
temperado com cebola ,alho e banha, e farinha de mandioca Eu comia até ficar
pesado.
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