sexta-feira, 1 de abril de 2016

A MALDIÇÃO CHAMADA CÂNCER…
CARLOS AUGUSTO PRATES DE MENEZES
História biográfica.
Direitos Reservados (reprodução proibida)



A   sombra da morte.

Meu trama começou em 1979, quando minha mãe adoeceu, e o diagnóstico era assustador Câncer de Colo do útero.

Nessa época eu tinha apenas 13 anos de idade, a notícia era sombria, assustadora pois se sabia que o portador de tal doença inevitavelmente iria morrer.

Minha  mãe tinha 50 anos uma senhora ,forte ,alegre, trabalhadeira, extremosa ,presente.

Era funcionária do frigorífico Swyft Armour na cidade de Rosário do sul.

Nossa casa era um casebre misto de madeira e paredes de tijolos sentados a barro.

Três quartos, sala e cozinha, a cozinha grande medindo, cinco metros de cumprimento por três de largura, sem forro e de chão batido, pátio grande com árvores frutíferas, muita sombra, porém sem energia elétrica ou água encanada.

A luz era de lampião a querosene ou velas, a água tinha de se buscar no poço, que ficava a um km.

Lembro – me do dia em que soube da confirmação da doença de mamãe, foi numa tarde, escondi – me embaixo da mesa da cozinha, mesa rústica feita de madeira, que media 2,20 de largura por 3,30 de cumprimento era maio 1979, o inverno estava chegando e já fazia muito frio, e esse dia chovia muito, e ali embaixo da mesa eu chorei muito pensando em como seria a vida sem minha mãe.

Embaixo da mesa da cozinha era meu esconderijo secreto, ali eu passava horas quando estava triste e chateado com alguma coisa, ali era meu mundinho particular onde ninguém , me perturbava e as vezes tinha por companhia os gatos de minha  irmã Célia, que vinham pedir carinho.

Aquela tarde chorei até a noite chegar, eu não tinha com quem dividir minha angústia, já sabia o que era a morte, já tinha ido a alguns velórios e sepultamentos, e agora essa bandida e nefanda chamada morte rondava minha casa.

Os dias que se passaram foram de grande expectativa e medo do iria acontecer ,como cristão eu orava e acreditava ,mas o céu parecia de bronze, mas Eu sempre soube que Deus cura e podia curar toda e qualquer enfermidade, mas tinha de esperar ,porque não se pode ir contra a vontade de Deus e se ele terminou que Eu tinha que passar por esse vale, Eu passaria louvando – o.

Seguiram –se dias de tratamento e enfim foi encaminhada a Porto Alegre, para fazer a remoção do útero, mas chegando lá constataram os médicos que a doença ,um  Carcinoma com metástases disseminadas ,estava em estágio avançado e não podia se fazer nada, a não ser a quimioterapia.

De volta a nossa casa, a rotina era internar e desinternar no hospital Nossa Senhora Auxiliadora, pois devidos as fortes dores e sangramento, mamãe não podia ficar em casa, seus gritos de dor as vezes eram tão terríveis ,que até hoje parece que ouço, ao lembrar daqueles dias de sofrimento.

Minha mãe tinha um e setenta de altura, pesava seus 76 quilos ,que foram sumindo pouco a pouco, cada dia Eu  via ela morrer aos poucos.

Muitas vezes ouvi em meio seus delírios de dor ,clamar para que a morte a recolhesse logo, para que terminasse o sofrimento.

1980 foi  um ano  rotina de ir e vir ao médico e ao  hospital ,mês de maio ele internou ficou dez dias, e deu alta, como o INSS, só garantia internação de 10 a 15 dias , ela internava ficava aquele período e dava alta e passava um dia em casa e depois tornava a internar.

Pagar tratamento particular não tínhamos dinheiro pra isso, a família apesar de grande todos muito pobres, sobreviviam na garra ,na raça.

Tornei me acompanhante permanente de mamãe com permissão da freiras carmelitas que administravam o hospital, e irmã Lúcia que se compadecia de nosso sofrimento , me permitia ficar cuidando de mamãe ,mesmo que isso não era comum, criança ser acompanhante.

Eu ajudava no podia limpava o quarto banheiro as vezes corredor numa forma de agradecer, o corpo de enfermagem começou me treinar de foram que aos 14 anos eu me tornei auxiliar de enfermagem, as medicações de mamãe em casa eram administradas por mim, via oral, endovenosa e intramuscular.

No hospital eu ajudava muitos outros pacientes em situação semelhante de minha mãe que estavam sem acompanhante.

Mamãe há muito só fazia as necessidades fisiológicas na cama, numa comadre, banho na cama e por muitas vezes Eu tinha de ajudar ela sozinho, curativos diários eram feitos nas escarras de leito, e feridas nos pulsos e tornozelos que se originaram pelo rompimento de vasos sanguíneos ,ao não suportarem mais as punções endovenosas. 

Quando ela passava um ou dois dias em casa eu dormia num quartinho de frente ao dela e com uma lanterna debaixo do travesseiro, ela gemia e eu pulava da cama, eram dias de muita dor, mas Eu desejava um dia acordar e ver minha mãe andando e comendo, vivendo de forma normal.

Mas quando acordava do pouco que conseguia dormir, ela estava gemendo e chorando sob a cama, com a graça de Deus consegui ter  forças de enfrentar e ir levando minha cruz.

Passei muita fome como acompanhante de mamãe, o pouco que vinha para ela como paciente, e sobrava eu comia, não tinha dinheiro para ir na cantina comprar uma bolacha.

O hospital para mim se tornou um presidio, Era doloroso   ver minha mãe sofrer de dia e de noite.

Nos horários de visita eu me afastava um pouco e as vezes um ou outro conseguia ficar mais um pouco com ela então Eu ia em casa dormir um pouco.

Meu pai com 61 anos, aposentado por problema cardio chamado coração grande cuidava do casebre , e do meu outro irmão menor (9anos) ,que na verdade era meu primo adotado por mamãe.

Quando Eu vinha em casa, meu pai  fazia um gostoso carijó , feijão e arroz temperado com cebola ,alho e banha, e farinha de mandioca Eu comia até ficar pesado.


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